O outono dos dias

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Espalho folhas
Levemente desenhadas
Douradas,
Para cobrir a pele das árvores
Caladas,
Sem movimento
Entregues ao desalento
Ao outono dos dias
Que vincam o tempo
E marcam a quietude
Dos gestos que ecoam
O silêncio das ruas.
Tento criar a ilusão
De vestir a estação
Espalho folhas pintadas
Outras nuas,
Onde escrevo histórias
E entrego-as ao outono
Como sendo suas…

No nosso tempo…

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Interrompo o tempo
Cada vez que fecho os olhos
E abro o corredor da memória
Onde guardo a simetria
Dos dias e dos anos
Que cobrem a nossa história.
O tempo não para de correr
Em sintonia com a vontade
De conjugar a felicidade
No estender das palavras
Que continuamos a escrever
No nosso tempo…

Amanhecer

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Aquieto-me
Com a última réstia de sol
Que espreita pela frincha
E se derrama no meu rosto
Contemplando o vagar
Do corpo que descansa
Sobre o dia quase findo
Que pousará no horizonte
Onde a luz recolhe
E levará o entardecer
A cair no anoitecer.
Aquieto-me
No olhar que se despe
Na inocência da madrugada
E reveste de sombra a noite
Até ao nascer das horas
Que acordam o amanhecer.

 

Não sei o que dizer…

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Não sei o que dizer
Tão pouco o que sentir
Se não a vontade de despir
O peso entranhado
Nos ossos
Neste corpo pesado
Onde já nada cabe
Se não a dor da saudade.
Difícil carregar o lugar
Que alberga o despertar
E sustenta o repousar
Das fragilidades da realidade.
O coração
De tão dorido
Sente-se triste e empobrecido
Ainda assim,
Ajeita-se no seu modo de ser
Vagueia,
Mas não se dá por vencido
Recorda a tua força de viver
Ordena a desordem
Nas emoções de te ter perdido
E num fechar de olhos
Abro um sorriso
A todos os teus sorrisos…