Da terra guardo os segredos
Promessas de um campo aberto
Sémen de trigo que germina
Entre o ventre das colinas
E a suave brisa do silêncio.
O olhar pousa e repousa
O corpo fatigado pela safra
Do amadurecer dos sonhos
E da colheita dos desejos
Semeados no regaço do coração
Tecidos no abrigo da imaginação.
Por entre os traços verdes do arvoredo
Cresce a raiz que me prende à vida.
Arquivos mensais: Setembro 2017
Poeta
… Sente as palavras como pétalas aveludadas
Embebe-as em ousadia,
Entrega-se à arte
De as acomodar em poesia.
É quando fecho os olhos
Que sinto as palavras
Escritas no teu olhar.
Poeta,
Que despertas o meu silêncio
Derramas em mim
A fragrância da tua rima
E ao meu corpo vens buscar
A substância da tua poesia.
Encanta-me
Esse teu encantado mundo
Que por vezes desconheço
Mas é tão doce
Tão vivo,
Apenas o quero habitar.
Num banco de jardim
Sentado no banco de jardim
De olhar triste e sombrio
Semblante magoado
Em quietude ignorado
Pela vastidão dos rostos
Que seguem na multidão.
Embebido em silêncio
Por um corpo repousado
Cansado do cansaço
Entre o vazio acumulado
De andar de banco em banco
Sozinho e arrastado.
Aprendeu a moldar os gestos
Para não ferir quem o possa ver
Gasta as horas que cobrem os dias
No aconchego da memória
Refúgio onde correm as lágrimas
E o levam à nascente da sua história.
Prende-se à corrente dos outros
Acrescenta-se com tudo o que vê
Alimenta-se com o viver da gente
Dá um jeito às dores que sente
Deixa-se ir com o pensamento
Até chegar o seu momento.
Vou com o olhar…
Não finto o olhar
Vou para onde ele me levar
Tamanho é o horizonte
Que já não me cabe no peito
Transbordam os sonhos
É nas nuvens que me deleito.
A vida move-se
Entre o escorrer do tempo
Dos dias a amadurecer
E das noites acordadas
Acorrentadas à insónia
Ao desejo de serem amadas.
Tomara eu ter asas
Para alimentar as madrugadas
Cobrir de beijos as orvalhadas
Travar a distância dos corpos
Ser sol e por vezes lua
Num sopro de vento ser tua.