…Entre as colinas…

São as cores da terra a tocar o céu

O sol a despir o véu

Para descer a encosta e pintar o vinho

Que lhe dará cor e nome

Enquanto o vento acena os barcos que passeiam no rio

Só os pássaros quebram o silêncio

E o olhar descansa

No corpo que já se deixou embalar

Nesta paisagem que mais parece uma moldura

Que até o pensamento transfigura

No tempo que se sente pausar

Tal é o ponto de pureza

Presente na beleza

Onde nos sentimos repousar

…Douro…

… Aroma do dia …

Suave o olhar que penetra na manhã

E sente a luz do sol a acordar o pensamento

Caem as últimas gotas de orvalho

Sob o ainda adormecido aroma das flores

E assim começa a frescura

Que se espalha com o vento

Pousando no amanhecer

E perfumando a rotina do dia

Dando rasgo à emoção

Deste meu viver!

Chegou dezembro

Chegou dezembro

Frio e molhado

Procura um regaço

Um lugar aconchegado

Onde aquecer o tempo

Para sentir de novo a pele

No corpo pelo vento moldado.


Chegou dezembro

Mas a casa está vazia

Fechada e sem companhia

Não há quem a venha habitar

Faltam abraços para reconfortar

O ano está cansado e triste

A pandemia não o deixa sossegar.

Soa a Silêncio

Soa a silêncio

A chuva que embala o outono

Folha a folha vai molhando

E os dias desbotando,

Ecoa a sossego

A brisa que na pele vai caindo

E o olhar vai despindo,

Soa a agasalho

O tempo que nos faz amadurecer

A cada estação renascer.

Passo a Passo

A cada passo

Sinto a liberdade das árvores

Invadirem o espaço que é do céu,

O rasgar do vento

Que penetra em cada momento

No agitar da folhagem

Que bate forte no silêncio

Levando e trazendo a aragem

Como se fosse roubar o pensamento.



A cada passo

Piso o chão preso pelas raízes

Que sustentam a altivez do teu corpo

E o meu olhar fica a flutuar

Entre a quietude do azul do céu

E as folhas verdes que o vão enamorar,

Pela distância tudo parece sereno

As árvores continuam crescendo

E o caminho vai-se fazendo.


Passo a Passo…

Somos dias…

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Mais um dia que amanhece
Vestido com asas
Tanto aparece como desaparece
Com pressa de chegar
Onde a felicidade se deixa apanhar.

Mais um dia que anoitece
Despido ao luar
Tanto adormece como espairece
Com vontade de sonhar
Até encontrar um lugar para pousar.

O olhar da chuva

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Não sei se será o frio
Ou talvez o arrepio
Que faz ventar o dia
E alimenta a correria
Da chuva que cai sem parar
E na terra se vem abrigar.

É o céu que silencia
O barulho da chuva que não finda
Gota a gota mudam os odores
E a beleza que acolhe a natureza
Veste-se de olhares e novas cores
Além da chuva que cai ainda…

Talvez o outono…

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Se o outono soubesse
Que o meu coração entristece
Tal como o dia escurece
E que o meu corpo rodopia
Tal como o vento assobia
Talvez o outono quisesse
Levar-me como uma folha
Num voo que só ele conhece.

Se o outono soubesse
Que a minha alma engrandece
Sempre que o sol aparece
E que a minha pele floresce
Tal como a vida cresce
Talvez o outono pudesse
Despir o olhar que esmorece
Reavivar a memória que envelhece.

Entrego-me ao outono
Como se ele soubesse
De mim… Talvez

Primavera!

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Agora que a primavera chegou
E o inverno já se sente recolhido
O corpo inverte o sentido
Rumo à nova estação
Onde o coração se veste de cor
E a pele floresce
Como se fosse uma flor.

Agora que o inverno acabou
E a primavera já se instalou
O olhar despe-se do frio
Abriga-se na beleza
No toque do perfume verdejante
Que o oficio da natureza
Espalha numa simbiose radiante.

Uma doce leveza se plantou
Dentro de mim
O amor despertou
Agora que a primavera chegou…

…entre voos…

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A vida passa pela espessura
Que cobre as paredes dos dias
O tempo espreita pela ranhura
Por onde os anos atravessam
Levando as horas pelo caminho,
E neste vai e vem constante
Esvoaçamos como pássaros
Num bater de asas
Contra a corrente do tempo
Para quebrar a fechadura
Levantar voo e voar
Criar pouso e repousar!